"LEMBRANÇAS INBOX E OUT BOX"

Teve uma longa época em que eu escrevia tanto no meu diário, que na falta de acontecimentos e uma mãozinha incansável acompanhada de um cérebro a todo vapor,criatividade e imaginação, renderam-me muitos contos, alguns pseudo-poemas e até umas rimas.

Hoje, mal consigo manter a coerência em meia duzia de palavras.

É a idade... não, não é a idade. A idade nos traz sabedoria.Talvez seja a idade sim, pois junto a sabedoria,nos acompanham as ponderações e auto-censura. É, talvez seja isso. Com idade venho me censurando e pensando muito antes de escrever.Há 10 anos, eu só escrevia, não pensava.Deixava pra pensar meses depois, e as vezes anos mais tarde.

Meu caderno rosa, com meu nome prateado na capa precisa ser encontrado. Deve estar dentro de alguma das 3 caixas que ainda mantenho fechadas,desde a primeira mudança que fiz pro Rio.Há quase 7 anos.

Tenho medo de abrir essas caixas, talvez não tenha apenas meu caderno rosa com meu nome em prata.

Não sei o que posso encontrar lá dentro.

Talvez tenha a carta que o Fernando me fez quando ambos tinham 13 anos. Ah, a carta... a carta em forma de rolo.500 folhas de fichário coladas ponta a ponta, todas as linhas escritas em letras miúdas, mal enxergadas com lente de aumento,aquelas letras naturalmente miúdas escrita incansavelmente muitos "eu te amo",frente e verso. Coisas da adolescência. Boas lembranças dessa época.

Talvez tenha em alguma dessas caixas muitas outras cartas.Sempre as guardei carinhosamente,inclusive alguns bilhetinhos.

Lembro em riqueza de detalhes alguns bilhetes e alguns trechos de cartas. Todas sempre foram importantes pra mim,mesmo vindo numa época adolescente, aonde não sabíamos de nada e qualquer mínima mudança no batimento cardíaco era interpretado como "amor".

Como eu "amei" nessa época... como chorei, sofri, ri, e acima de tudo... como eu amei!

Todos os meus "amores", foram amores reais. Cada um na sua época, cada um no seu estado hormonal, cada um na sua intensidade e sua particularidade.Mas todos foram amores.

Sou uma amante profissional. Se sou capaz de amar uma comida, pq não amar o ser humano?

Há coisa mais bela que um sorriso sincero? E um sorriso envergonhado?? ahh, sorriso envergonhado é irresistível,amo!

E um olhar doce? um olhar doce, é naturalmente amável!

Um toque carinhoso?? Claro que amo!

Voz sonolenta?? que delicia!

Sim, sou amante profissional. Amo muitas ações naturais do ser humano,consequentemente, amo o ser humano.Não todos... mas muitos!

Uns mais do que outros, e em determinadas épocas da minha vida, um muito mais que qualquer um!

E esse um, só é mais amado, por conseguir me fazer amar muitas de suas ações naturais ao mesmo tempo... e isso acompanhado de uma riqueza de detalhes maior que qualquer outro.

Sim, eu sou amante!

Amo ser amante!

Mas há um problema... Normalmente sou amante sozinha. Dificilmente esse amor é recíproco. Triste, bem triste. Mas não tem problema... Sou amante profissional, lembra-se???Estou sempre amando!

Talvez em uma das caixas,esteja meu disco de vinil do Raul Seixas.

Será que tmb possa estar aquela minha camiseta do uniforme do colegio assinada por meus amigos e tmb pelos meus não amigos?? Deve estar fedidinha né? Nunca tive coragem de lavar com medo de sair as "assinaturas" dos não amigos e os recadinhos carinhosos dos amigos.Lembranças...boas lembranças...

Talvez em uma dessas caixas tmb esteja algumas fotos de qdo eu andava com roupas de menino e usava boné, depois daquela época em que só usava calça boca de sino com cores bem discretas... laranja, rosa choque [sim, antigamente pink era rosa choque], verde limão e amarelo meu deus que medo, algumas fotos da época em que só usava all star verde militar, calça jeans larga, rasgada e mostrando um pedação da calcinha que na verdade era um short por baixo da calça e em cima da calcinha, e blusinha de alça e justinha ao corpo, e quem sabe daquela época em que calça bailarina era moda e usávamos como uniforme da escola, pra ir pro shopping,pro curso, pra biblioteca ou pra qq lugar. E quem sabe ainda, da época em que o scarpin entrou na moda junto com cinto e bolsa exatamente na mesma cor e textura?? caramelo já foi moda, eu já tive... hoje tenho medo!Mocassim feminino já foi moda... eu tmb tive! AH os tênis tipo chuteira com "cravinhos" na sola?? tive 3.Vivia com esparadrapos nos dedos e calcanhar.Keds... amava meu keds...[assim que se escreve??],melissa?? 3 por ano, tansparente, fumê, preta. Na época a mais cara era a preta e custava 20,00. Bolsa lateral tipo pasta do piu-piu... carrinho de ferro com elástico prendendo a bolsa, elástico que prendia os livros e cadernos que carregávamos nos braços [tendinite, oi??? mas era moda], mochila da company [essa não tive, qualquer coisa que custasse mais de 40,00 não tive], babuche[a], alguém lembra dessa coisa horrenda??? pois é, eu tive... DUAS... um com soladinho de "madeira" e outro de borracha... vivia com os dedos pretos, soltava tinta. Será que tenho foto de todas essas fases e modas vivenciadas por mim e por mtos outros companheiros dos anos 90??? Nascemos nos 80, mas né,pra começar com modinha tosca, só a partir da pré- adolescência!

Devo ter tantas lembranças boas e ruins dentro dessas caixas, que agora sei o motivo pelo qual nunca as abri.

Medo... medo de abrir tantas lembranças, fechadas e lacradas por tantos anos.Não sei o que esperar encontrar. Talvez não tenha nada disso que descrevi acima, talvez apenas algumas roupas velhas, livros impecáveis,sem orelhas, rabiscos ou bilhetes.Ou talvez tenha algumas lembranças fortes demais para serem relembradas.

Não sei... e sinceramente, ainda não quero saber.

Talvez, o dia em que sair da casa da minha família eu abra as lembranças, mas por enquanto é melhor elas continuarem no mesmo lugar em que estão há 7 anos...

Nas caixas!