E SE...
E se você não acreditasse em amor à primeira vista? E se você não acreditasse em amor à primeira vista e se apaixonasse à primeira vista? E se você não só se apaixonasse à primeira vista como também não conseguisse esconder isso, e tivesse que ficar disfarçando toda a noite, fingindo que você não estava olhando pra ela o tempo todo; que você não queria falar com ela; que, quando falava, não queria parar; que, quando a via te olhando de soslaio, logo tentava impressioná-la; enfim, que não queria tirar a roupa dela, levar ela pra casa e passar a noite com ela e não sair do quarto nunca mais?
E se o objeto deste amor fosse uma pessoa aparentemente diametralmente oposta aos seus gostos e pela qual, normalmente, você jamais se atrairia? E se MESMO ASSIM você se apaixonasse louca e estupidamente por ela à primeira vista? E se, olhando mais de perto, ela mostrasse ser exatamente o oposto: uma reunião de tudo o que você sempre quis, e dessa vez sem licença poética? E se ela fosse carinhosa, atenciosa, bonita, responsável, inteligente, engraçada, romântica, sensual, charmosa, simpática, não-ciumenta, meiga, doce e corajosa? E se, não bastasse ser tudo isso, ela também se apaixonasse por você à primeira vista?
E se a primeira vez que vocês se viram tivesse sido uma cena em câmera lenta, com “Wonderful Tonight” tocando ao fundo, embalando sua entrada apressada e o olhar atônito trocado por vocês? E se o primeiro beijo de vocês fosse embalado por “Something”, e fosse no aeroporto, com um monte de gente entrando e saindo, com pressa, mas pra vocês esse beijo durasse semanas, meses, apenas ali, no aeroporto, e todos morressem de inveja de vocês? E se, não fosse tudo isso suficiente, você sentisse as pernas dela tremendo de nervoso ao te beijar e, após o beijo, ela desviasse o olhar, tímida, não acreditando no que acabara de acontecer e, depois disso, ela te abraçasse como se não quisesse acordar deste sonho ou como se não quisesse te deixar ir embora nunca mais? E se, durante a primeira noite de vocês, o tema fosse “Não se afasta de mim”, na voz de Celso Fonseca. Mais precisamente não durante a primeira noite, mas depois, quando ela, ainda dormindo, puxasse seu braço pra cima dela feito um cobertor e te aperta forte, como se quisesse ficar ali com você pra sempre?
E se ela, nas primeiras vinte e quatro horas junto com você, te tratasse como se você fosse o homem mais bonito, inteligente e elegante do planeta? E se ela cuidasse de você como se você fosse um gatinho perdido em uma rodovia no meio dos caminhões? E se ela te compreendesse como uma mãe que compreende o filho rebelde sem precisar que ele diga nada? E se ela, com uma coragem que você provavelmente não teria, se arriscasse a mudar de cidade, de estado, a deixar família, amigos e as duas gatas pra trás para ficar com você? E se ela, com uma semana que vocês deram o primeiro beijo, já pensasse em casar, ter filhos e envelhecer com você, e dissesse que te ama fechando os olhinhos de vergonha? Pior! E se ela não só pensasse tudo isso, mas também fizesse você pensar!
E se tudo isso fosse verdade? E se esse conto de fadas realmente tivesse acontecido? E se aconteceu, e eu estou escrevendo isso só pra poder, mais uma vez, me lembrar dela nos mínimos detalhes? E se, neste momento, ela estiver dizendo que me ama e que quer ficar comigo pra sempre? E se eu estivesse errado, e amor à primeira vista existe? E se nós formos felizes para sempre, meu amor?
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